2015-02-02

coisas simples 112

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nº.112

imagem simples:



"Utilize o seio oposto": entre Santa Engrácia e Santa Apolónia, depois de uma visita ao Panteão Nacional, na tarde de 1 de Fevereiro de 2015.

[foto: samsung galaxy s3]

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patriotismo não-tão-simples:

"Heitor não ouviu o sábio conselho da tia Doroteia, foi o pai a contar. Abençoada senhora. Hoje mais para o forte, talvez pelo uso de vinho tinto mesmo fora das refeições, mas no seu tempo tinha sido uma afamada beleza da cidade, boa dançarina, animando bailes de quintal ou do salão da Escraquenha, antes da Independência, e ultimamente ainda dando suas passadas nas pistas da Associação Chá de Caxinde, de que foi uma uma das principais usuárias. Um dia levou lá Heitor, meu filho, és sossegado demais e isso é perigoso, te vou arranjar um par à altura para aprenderes a dançar, é indigno deste país quem desconsegue de dançar um bom semba. Fica sabendo, esta nação [Angola] está assente na música e na dança, não nas palavras dos livros e dos discursos. Fazer música ou cantar não é para todos e também não podemos exigir esse dom, mas dançar é obrigação nacional, questão de patriotismo, seja dança de roda como as do Leste e da nossa rebita, seja dança de pares, seja mesmo sozinho agarrado a uma garrafa de cerveja. Vamos lá chocalhar bem o corpo e beber um vinhito, eu me encarrego. Heitor foi mesmo obrigado a dançar, se meteu no meio dos outros pares, pediu desculpa a moça conhecida da tia Doroteia, vou ter cuidado para não lhe pisar os pés, pisa à vontade, se te apetece, mas encosta bem a barriga para sentires o rítimo."

[Pepetela, O tímido e as mulheres, ed. D. Quixote, 2013, p.108-109]
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